domingo, 14 de dezembro de 2008

Noturna

Meu primeiro Soneto. Dedicado especialmente à minha mãe. ( Meu céu e meu chão)

Como um verme que se refugia
Na fetidez da matéria morta
Em meio a surtos de saudades, um dia
Fui mendigar abrigo à tua porta

Retratei tua pancosmológica rejeição
Em um quadro visivelmente triste
Chorei, abraçado com a própria solidão
E tu sequer a porta abriste.

O medo, o desalento, o desconforto
Atingiram-me. Padecendo quase morto
Na agonia dessa noite congelada

Vejo-te ainda a olhar-me indiferente!
E depois de prantear inutilmente
Sepultei meus sonhos em tua calçada.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Espera

Às vezes, quieto, fico a procura do meu melhor poema.
Passo horas à sua espera. Mas ele insiste em não aparecer e se esconde lá nas sombras da imaginação.
Assim como eu, ele está quieto, camuflado em emoções, mergulhado na alma.
Mas, não perco a esperança.
Um dia ele fará a viagem, a magnífica passagem.
Sairá subitamente de minha mente e colorirá as pálidas e inóspitas páginas do livro de minha vida.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Religião e Ciência, caminhos paralelos

Os discursos promovidos pelas religiões, bem como os preceitos escatológicos por elas defendidos vão, quase sempre, de encontro à ideologia científica moderna. Esta, em vez de buscar diálogos, propõe aniquilamentos. Estuda a religião, não com a intenção de verdadeiramente compreendê-la, mas com o intuito de desmistificá-la ideologicamente. Sua intenção é marcadamente política: a liquidação do adversário.
Esta reflexão, entretanto, não visa, absolutamente, instaurar um confronto entre religião e ciência. Não é intenção nossa colocá-las em campos distintos e opostos, tampouco medir eficiência, mas identificá-las enquanto trajetos paralelos, enquanto linguagens que dizem algo sobre o homem e o mundo que o circunscreve. A religião é um discurso e por ele se revela. Enquanto não decifrarmos o código que rege seus símbolos, o discurso religioso se apresenta como um enigma ou como um equívoco. Ou não o entendemos ou o entendemos de forma equivocada. Não podemos interpretá-la fazendo uso de códigos que lhes são estranhos. Dessa forma, parece ser inútil tentar desvelar os discursos religiosos por meio dos códigos propostos pela ciência e vice-versa.
Qual é a melhor? A resposta está no âmago de cada subjetividade: a melhor é a que te faz melhor, ou seja, é a aquela que mais te ajuda em seu projeto de si mesmo!

Labirinto meu

O tempo vai passando e eu, embora relutante, vou me cansando de buscar saídas nos labirintos que eu mesmo me preparo.
O fio de Ariadne em vez de guiar-me, enrosca meus pensamentos e aprisiona meus desejos.
Cada porta em que adentro, impactantemente, surge-me pela frente uma parede irredutível.
Cada passo que caminho tentando imergir em meu ser, contém em si doses de desespero e desistência.
E o monstro temível a quem procuro destruir, zomba de mim e ridiculariza meu espírito heróico.
Então, solitário, afasto de mim o doce e suave gosto da liberdade.
Sacio-me apenas com o acre e amargo sabor da solidão.
E nessa exaustiva jornada...fico perdido eternamente.

Sina

Parece que minha tristeza está refletida nessa tarde apagada. Como se o mundo conseguisse traduzir meus enigmas como nunca conseguir fazê-lo.
Parece que meus genes se cansaram de mover-me e minha psiqué de amar-me...
A face da felicidade nunca me foi mostrada, a não ser em sonhos e em projeções insanas.
Minhas bússolas...nunca me dão o rumo certo. Levam-me sempre à gaiola do fracasso. Lá, alimentado de dor e medo, padeço apertando contra meus restos humanos suas gélidas e intransponíveis grades.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Hereditariedade

Na escuridão intra-uterina se forma
Em clivagens embrionárias progressas
Cria orgânica de uma dúvida possessa
Que em medo crescente se transforma.

Em caldo amniótico vive
No invólucro da placenta mal formada
Tú és prévia de uma vida rejeitada,
Empecilho do sucesso que não tive.

És feto frágil e mal nutrido
Que em ventre materno causa cólica
Fruto proibido, sina melancólica
Que aborta meus sonhos preferidos.

sábado, 8 de novembro de 2008

Prisão perpétua

Sucumbindo nesse antro abjeto
Que poda meu brilho, riso e gozo
Nesse ambiente escuro e mal cheiroso
Acompanhado de ratos e insetos.

Desse túmulo sou um triste prisioneiro
Travando minha fúnebre batalha
Disferindo tensos golpes de navalha
Contra a morte, meu último carcereiro.

Indefeso, torno-me facilmente
Alimento de protistas e moneras
Organismo repartido por quimeras
Que habitam meu cárcere silente

Meu corpo está repleto de tumores
E de feridas causadas por algemas
Minha voz já não expressa mais fonemas
Pra pedir trégua aos meus torturadores.

Lamentando os meus sonhos adiados
Em torpor vil que me atropela
Permaneço nas grades dessa cela
agarrado submisso aos cadeados.

A solidão me prepara um prato frio
Que degusto cotidianamente
Num banquete fétido e decadente
No átrio de meu hotel sombrio.

Ingerindo o tempo que não passa
E regogitando monotonia
Padeço nessa eterna agonia
Exibindo minha tísica carcaça.

Então, a liberdade a mim se revela
Iludido, saio a divagar pela rua,
Mas toda agonia continua
Pois tão-somente mudei de cela.

Socorro!

Pelas angústias do mundo, perturbado
Com o peito ardendo em vil torpor
Suplicando, peço-te por favor!
Retira-me deste barco naufragado!

O arrependimento é uma lâmina cortante
Que perfura meus centros cerebrais
E das excretas das glândulas lacrimais
Sou um melancólico navegante.

Na companhia desse tédio que não finda
Contemplando a solidão que me aflinge
Mergulho, tonto, nesse vazio que atinge
O meu eu paralítico mais ainda.

O amaríssimo sabor do hediondo
Presenteia-me as papilas gustativas
E tu desespero!tu que motivas
Os versos reles que estou compondo.

Homem triste, pela tristeza seqüestrado
E pela dor esse algoz impaciente
Do meu cárcere ouve-se nitidamente
A guturalidade do meu brado.

Um aglomerado estercoário me sinto
Desistente, perco a vida, ganho a calma
Conformado acompanho minha alma
Em seu percurso silente para o infinito.

Sem desfarce

A soberba atinge os sonhos meus
Numa grandiosidade imanente
Que só encontra concorrente
Na supremacia mitológica de Zeus

As palavras polissêmicas do vento
Redigem no meu túmulo enlodado
Os poemas obscuros do meu fado
E a síntese tumbal do meu alento

Fruto da teleológica tristeza
Turbilhão apriorístico de dor
Hermenêutica traidora do horror
Desintegração atomista da certeza

Rasga a máscara leviana que usas!
E mostra a frialdade do teu ser
Não te negas, não tentas esconder
A feiúra necrófila que recusas!

Delibero, depois penso, calo e revejo
Que desta vida só se leva na verdade
O agregado abstrato da saudade
E o instinto fatídico do desejo.

Nossos sonhos medem nossa grandeza

Nós somos do tamanho dos nossos sonhos. Há em cada ser humano um sebastianista louco vislumbrando o Quinto império, um navegador ancorado no cais a idealizar mares nunca dantes navegados e um obscuro Dom Quixote que , mesmo amesquinhado pelo atrito da hora áspera do presente, investe contra seus inimigos intemporais: o derrotismo, a indiferença e o tédio.
Sufocado pelo peso de todos os determinismos e pela dura rotina do pão-nosso-de-cada-dia, há em cada homem um sentido épico da existência que se recusa a morrer, mesmo banalizado, manipulado pelos veículos de massa e domesticado pela vida moderna.
É preciso agora resgatarmos esse idealista que ocultamente somos, mesmo que D. Sebastião não volte, ainda que nossos barcos não cheguem a parte alguma, apesar de não existirem sequer moinhos de vento.
Senão teremos matado o santo e o louco que são o melhor de nós mesmos; senão teremos abdicado dos sonhos da infância e do fogo da juventude; senão teremos demitido nossas esperanças.
O homem livre num universo sem fronteiras. O Nordeste brasileiro verde, pequenos nordestinos risonhos e saudáveis soletrando o abecedário. Um passeio à pé pela cidade calma. Pequenos cristãos, árabes e judeus brincando de roda em Beirute ou na Palestina.
E os estudantes todos de um País chamado Brasil convocados a darem o melhor de si na carreira que escolherem.
Utopias? Talvez sonhos irrealizáveis de um poeta menor, mas convicto de que "nada vale a pena se a alma é mesquinha e pequena".

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